Como foi a sua infância?
Meu pai servia aos encostos e o envolvimento era tão
profundo que ele chegou a ter um certificado reconhecendo o
envolvimento. Ele não queria que eu nascesse. Chegou a agredir a minha
mãe durante a gestação pedindo que ela abortasse. Quando nasci, fui
consagrado aos encostos que ele servia. Aos 4 anos meus pais se
separaram e minha mãe casou novamente. Fui criado por ela e por meu
padrasto. Mesmo morando no Morro da Tijuca (Rio de Janeiro), minha mãe
trabalhava em três empregos para não deixar faltar nada em casa para mim
e para as minhas três irmãs. Eu fui estudar em um dos melhores colégios
do Rio e, com 10 anos, me destaquei como jogador de futebol.
Nesse período, houve alguma situação que foi marcante?
Sim. Eu me lembro quando uma das minhas irmãs nasceu,
em 1980. Minha mãe entrou no hospital para ter a criança e ficou por lá
durante 6 meses por causa de uma hemorragia. Quando ela recebia alta e
pisava a planta dos pés em casa ela começava a sangrar. Em vez de
abandonar os espíritos, ela decidiu procurar um lugar para frequentar
que fosse mais forte. Chegando lá, o espírito manifestado no líder do
local me enviou um búzio dizendo que era para minha proteção. Eu tinha
12 anos, era um aluno talentoso, não precisava de proteção. Eu recebi,
mas não me importei muito com aquilo. Um dia, brincando com um amigo,
acabei quebrando o búzio. O espírito mandou me chamar e disse que eu era
relaxado e não tinha levado a sério as orientações dele. Para me
impressionar, ele jogou o búzio dentro de um copo de cerveja e fez com
que a bebida começasse a borbulhar, até sumir por completo do copo. Ele
me disse: “Está vendo, você matou uma vida”, depois disso, ele colocou a
cerveja no copo e mandou que eu bebesse. Eu recusei, pois como atleta
não queria beber. Por causa disso, ele me praguejou e disse que iria me
tornar um viciado e aos 18 anos iria me matar.
E o que ele disse a respeito dos vícios se cumpriu?
Sim. Com 14 anos eu recebi drogas de dois amigos
dentro da escola. O interessante é que no morro nunca nenhum traficante
me ofereceu droga, e dentro de uma das melhores escolas do Rio foi que
eu experimentei e continuei usando, até os 18 anos. Às vezes os pais
pensam que dando esporte e bom ensino vão livrar o filho das drogas, mas
não é verdade. Eu experimentei uma e continuei. Eu sentia uma
perturbação, depressão, vazio, realmente uma influência maligna. Era
algo tão demoníaco que quando pensava nas pessoas que me faziam mal eu
sentia gosto de sangue na boca. Eu não me contentava só com um tipo de
droga, comecei a usar maconha, cocaína, alucinógenos, pílulas; tudo o
que aparecia eu usava.
Quais foram as consequências dos vícios para sua vida?
O que era pra dar certo começou a dar errado. O clube
que eu jogava me afastou por causa do meu comportamento e desperdicei a
chance de ser um jogador profissional. Com isso, passei a usar mais e
mais drogas, pois parecia que elas não surtiam mais efeito. Eu cheguei à
igreja fumando 20 cigarros de maconha por dia, cheirava 10 gramas de
cocaína sozinho. A cartilagem do meu nariz ficou comprometida. Como eu
era forte e saudável não sentia os efeitos da droga em meu corpo. Só
descobri os malefícios quando, em uma noite de uso, acabei expelindo uma
quantidade de sangue pela boca.
Além das drogas, o senhor também teve envolvimento com a criminalidade?
Sim, pois eu não me contentei só em usar e comecei a
vender. E uma coisa leva à outra. Eu fui parar em uma quadrilha de
pilotos de assalto, pessoas contratadas para roubar. Não tinha paz. Meu
amigo se tornou meu inimigo número um por causa de um sumiço de balas de
um revólver. Ele passou 2 anos tentando me matar. Para me proteger, eu
andava armado, mas gostava de brigar na mão. Eu tenho 23 cicatrizes pelo
corpo, originadas por paulada, garrafada, canivetada.
Como foi a sua conversão?
Dois meses antes de chegar à Igreja me aconteceram
duas coisas terríveis. No ano em que eu completei 18 anos, saí de um
clube e me envolvi em uma briga, pois se alguém me encarasse por muito
tempo eu já partia para a agressão. Meu rival estava armado e disparou
três tiros à queima roupa. Desviei dos tiros e ele disparou mais quatro.
Para piorar, encontrei um grupo rival, que me deu mais três tiros e,
por milagre, nenhum me acertou. Uma semana depois do ocorrido, estava
sentado em uma praça, com uma garota que era minha noiva na época, e um
idoso apareceu com uma taça de vinho e me ofereceu a bebida. Eu neguei, e
disse que nem o conhecia. Ele jogou o vinho em mim e acertou minha
noiva. Depois levantou o boné e disse que tinha chifres. Eu comecei a
lembrar das palavras da minha mãe que já ia à Igreja, dizendo que quem
tem chifres é a besta. Isso mexeu muito comigo.
Outra situação que me assustou foi quando, em uma
tarde, eu estava na casa de praia de um amigo e a mãe dele manifestou
com um demônio, e sem me conhecer contou a minha vida toda. Além disso,
disse que eu iria ser morto em breve pelo meu ex-amigo. Atordoado, não
quis mais ficar lá e decidi ir embora. No caminho de volta, eu encontrei
meu ex-amigo no ponto de ônibus. Tentei me esconder dele, mas ele me
viu e disse que me mataria naquele final de semana.
Eu voltei para casa e pedi perdão à minha mãe,
dizendo que queria servir ao Deus dela, pois sentia que se não fosse,
com certeza morreria. Na segunda-feira fui à Igreja, e como estava
decidido, me entreguei de tal forma que, em 4 meses me libertei das
drogas e da criminalidade. Com 8 meses recebi o Espírito Santo, e com 10
meses fui levantado a pastor. Da turma que eu andava, hoje eu sou um
dos quatro sobreviventes, de um grupo de mais de 30 pessoas que foram
assassinadas. Deus me deu o livramento e a praga do diabo em minha vida
foi quebrada.
Como foi o processo de sua conversão?
Embora o processo tenha sido rápido, enfrentei muitas
lutas nesse período. Na loja em que trabalhava, as colegas de trabalho
me ofereciam drogas e se insinuavam para mim, com roupas apertadas e
curtas, querendo ter uma relação comigo. Sem contar que eu cheguei noivo
e era obcecado por ela; um namoro de 4 anos. Mas decidi terminar, pois
vi que junto dela não conseguiria obedecer a Palavra de Deus, já que
queria um compromisso sério com o Senhor e ela não estava disposta a
fazer o mesmo naquele momento. Por 8 meses fiquei recebendo cartas dela,
tentando voltar, mas estava decidido a renunciar à minha vontade para
fazer a vontade de Deus. Foi então que conheci minha esposa, Taís, e
logo que fui levantado pastor, o bispo Clodomir abençoou nosso namoro.
Após 1 ano e 2 meses me casei e estou casado há 20 anos. Com 8 anos de
casado adotei uma criança, o meu filho do coração, Mateus, que está com
12 anos. Graças a Deus, tenho uma família feliz e abençoada.
Há 23 anos fazendo a obra de Deus. Como é ser bispo, marido e pai ao mesmo tempo?
Ser bispo na Igreja Universal é uma guerra. Eu
costumo dizer que ser representante fiel de uma obra perseguida como
esta é levantar todo dia já tendo um “leão para matar”. Quando estava no
Rio de Janeiro, tive a igreja invadida e três pessoas tentaram me
matar. Fui discriminado por ser da Igreja quando reconhecido em um
restaurante e chamado de ladrão dentro de uma loja. Ser bispo, ser pai,
ser marido não é fácil, nada é fácil. No nosso caso fica mais fácil pelo
que está dentro de nós, fica claro como Deus é com a gente pelas lutas
que enfrentamos e vencemos, pois somos atacados e perseguidos
constantemente.
Sabemos que os bispos da IURD fazem diversas
reuniões por semana e que as igrejas abrem todos os dias. Não existe
cansaço ou desânimo?
Não, não e não. Para um profissional que mercadeja a
fé, sim, mas para o homem sincero e transparente, não. A marca do homem
de Deus é transparência. Na Igreja Universal, para o servo de Deus não
existe cansaço ou desânimo, pelo contrário. Eu só decidi servir a Deus
como pastor quando olhei pra minha vida e vi que ela estava à altura do
que iria pregar, porque como vou falar de família sem ter uma? Como vou
falar de saúde se estou doente? Como falar de força se estou fraco? A
gente não vive na hipocrisia. Vivemos o que pregamos.
Diante das responsabilidades de um bispo, quando o senhor tem algum momento de lazer, o que gosta de fazer?
Eu gosto de jogar futebol e assistir filmes,
principalmente aqueles que remetem à reflexão, que têm um final
surpreendente, que fazem você pensar, pois eu gosto de pensar. Também
gosto de ler e de escrever. Inclusive, estou preparando uma cartilha,
chamada “O Manual do Empreendedor de Sucesso”, com 20 tópicos
motivacionais visando à prosperidade.
Qual o conselho que o senhor dá para os jovens da Igreja que pretendem fazer a Obra de Deus também?
O jovem deve fazer bom proveito da sua juventude,
aproveitar os dias da sua mocidade, porque hoje, infelizmente, o tempo
passa muito rápido, conforme Jesus alertou, os dias estão se abreviando e
isso nos obriga a viver uma vida de situações definitivas. A vida está
passando tão rápido que não há mais tempo para errar, nós temos que
acertar. Eu recomendo que os jovens que têm esse desejo venham correndo,
pois sempre estamos precisando de trabalhadores para a seara.
Para finalizar, quais os planos para o futuro?
Eu não tenho planos, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim e eu estou adaptado à vontade Dele. O que Ele quiser
de mim, eu farei, pois Ele sabe que pode contar comigo para o que der e
vier.
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